terça-feira, maio 31

Manhã com neblina

A manhã com neblina e suores dos amantes, que ora salivantes, se mordem com fome. Uma canção pop. Café, seda, frestas. Fragmentos das suas arestas, sorvendo o clima que impera. A lira, a lida, a festa. O verso que se rebela. As maiores verdades da vida estão escritas na testa.

Clóvis Struchel

segunda-feira, maio 30

Rascunho noturno

Não seremos vorazes, os impasses cessaram, no romper das nuances, tange, aviva, dá cor aos olhos. E ainda que chova, monumentalmente, mesmo que houvesse música, daquelas únicas, não haveria beijo, transa impetuosa, tão somente alguma conversa ligeira, dois pedidos no bar perdido: uma cerveja e um suco de manga.

Haikai

Goteja
Na folha morna
Lágrima seca
Adorna

Tudo bem

Tá tudo bem
Não tropeço nos silêncios
Saudoso, ímpar
Sereno
Na turbulência
É só sendo
Nas intempéries
Do tempo
Alinho
Passaredos
E tenho medo
É das vírgulas
Que mudam rumos
Desnudos destilam
A madrugada é minha lira

Clóvis Struchel

Faros

Nua
De certo
Em suma
Crua
Ainda havia lua
Pra iluminar seus rastros
No tilintar de auroras
Torpor
Fulgor
Outrora
Vertente que aprimora
Meus faros

domingo, maio 29

Esmero

Robusto
Contudo
Impero
E esmero
As tais latitudes
Fragmento ébrio
Olhar penetrante
Me tirando o sério
Delírio, rompante
É você que eu quero

Clóvis Struchel

Primavera de junho

Contudo
De sobressalto
Me impulso
No lance
Transe
Assunto
Na voraz lira
E difuso
Acerto a mira
E vou junto
Pra primavera de junho
Pra terra de seu Afonso
Pras águas das cachoeiras
Ligeiro
Verdade
No cais da sagacidade
Me ergo

Sinos

Resquícios
Marasmos
Cíclicos
Brados ínfimos
Senões
Ímpetos
Densidade
Instinto
Do alto ardor
De um vinho tinto
Tramas urbanas
Canções na cama
Toques vívidos
Límpidos
Ouviram-se tocar sinos
Na sutileza que insisto

Pra gente

Cigarro aceso
Pensamento terno
A vicissitude de um verso
É eterna
A protuberância do sentido
É etéreo, pra sempre
Há poemas que falam de todos
Já outros só dizem pra gente

O compasso visceral do tempo

Esta vertente inebriada da noite, torpores, intempéries, o afago preciso, esta brisa, esta música, a aurora linear que se inunda, no percorrer das horas idas, fluídicas, fragmentos de versos não lidos pelas retinas difusas dum amor tempestuoso. E o compasso visceral do tempo, aninhando, fluindo, sentindo, sendo...

Bug

Alinho
Costuro
Reconfiguro
Inauguro
Um coração com bug
Dum tal amor obscuro

Fresta

Na esfera
Docente ardor
Que se esmera
Fulguração
Que interpela
A mansidão
De uma pétala
O lapidar
De uma pedra
Juntando todas as peças
Desabrochar de arestas
Te ver desnuda, em festa
Por um detalhe, uma fresta
Entrar, deitar e me empresta
Este calor que rebela
Efervescência na certa
Me tremulando as pernas

sábado, maio 28

Brados

Fatigado
E os brados
Das pernas
Ora bambas
Rumam
Prumam
Voam
Num compassar
Destemido
Indago o sol
E prossigo
Infante
Ébrio
Sucinto
Neste relevo
Planície
Onde as tempestades
Residem

O que vai fazer no feriado

Não sei
Quanto aos seus cabelos
Ondulados
Nao sei
Eu nao sei
O que vai fazer no feriado
Talvez
Do seu jeito de olhar
Sei um bocado
Nao sei se lê sartre no sábado
Nao sei suas fomes
Seus medos.
Refaço indago teço
Impero reverbero um recomeço
Apenas saber seu nome merece um poema inteiro

Jazz de nostalgia

É relevante
O transe
A voz rouca
Da cantora
Num jazz de nostalgia
Os nossos drinques
Acesos os cigarros
Tramas urbanas
Jaquetas jeans
Um turbilhão de desejos
Nomenclatura de anseios
É visceral
Âmago
Transcendência
O mirar de um Farol
Distante
Iluminando tais corpos
Arfantes
Molhados
Entregues
Ao mar
Ao vento
Ao tempo
Ao breve

Pintor de telas

Um poema esquecido
Num obscuro brilho
De tilintar nuances
Um poema atrás da porta
Num envelope
Debaixo de um tapete persa
Poema de fulgurações
Demandas, senões
Poema de infante
Poema inca delirante
Poema sucinto
Nas indagações
Um poema rasgado
Robusto e embriagado
Para amansar leões
Para emanar multidões
Num bruto ardor de poeta
Poema solitário
Voraz e memorável
Sozinho como um pintor de telas
Que em um só traçado
Refaz com astúcia, mirado
A nuance do rosto dela

Vibe

Na vibe
Todos são azuis
Ou liláses


Encontro basco

Um encontro basco
Inebriado
Embriagado
Eu fiquei mudo
Você calado
Os nossos olhos
Incendiavam
Corpos sedentos
Rostos colados
Quanto as palavras
Que dissertávamos
Tramas urbanas
Um traço, um brado
De certo em suma
Enluarado
Por entre as brumas
De tais presságios
Na mente um clímax
No peito um baque
Lépido e denso
O movimento
O argumento
Similaridade
Estremecimento
Em tal fragmento
De voracidade

sexta-feira, maio 27

Nossa foto na mesa

Chegou e desperdiçou palavras
Como se o silêncio compusesse o tom
Desmedido
Fugaz
Brado intrínseco
Pediu um café sem querer
Acendeu seu cigarro de artista
Com seu nike surrado de pista
Pernas gurias, estremecidas
Derrubou nossa foto na mesa
Derrubou nossa foto na mesa
Derrubou nossa foto na mesa
Derrubou nossa foto na mesa

Noite dos gatos persas

Na rebordosa
Impondo o clímax
Das horas
Defronte
Instinto
A relevância
O vinho tinto
O sobressaltar
O brilho
Dos olhos mouros
A me fitar
Nas avenidas góticas
Rompendo a barreira
Da glória
Pra sermos nossos
Agora
Num bar num pub
Retórica
Te aninhar
E vambora:
A noite é dos gatos persas
Suas pernas
E tramas
A cama flutua
Entrância
De rimas
Fluídicas
Únicas
Proeminentes lisuras
Sem juros ou juras
Aquém das rupturas

As margaridas

Aprumo um jeito
Meio ao meio
Envolto
Algum receio
Não trovejo
Deixo o sol dar cor
Ao beijo
E se te vejo
Rego as margaridas
Do caminho

Poema ao relento

Uma palavra
Não soará
No tempo
Poema ao relento
Pra plantas silvestres
Mas o sentido
Este tal Deus destemido
Estará presente
Nos poros
Vísceras
Vestes
Aprumará um presságio
Quanto a palavra
O poema de folha rasgada
Apenas regarâo nascentes
Mas nada
E fulgurarão
Eloquentes
Na importância do poema presente
Transpirado
Aprumado
O poema largado
Por entre poeiras cósmicas
Lavrando a lama das botas
Livrando o caos e a discórdia
Do Sol e todas as notas
De um instrumento de cordas


Presságios ébrios

Toda astúcia
Divulga
A inauguração
Da lira
Tambores
Clarinetes
Saxofones
Rompem tédios
Anunciando intrépidos
Presságios
Ébrios  

Uma canção antiga

No silêncio da noite, um jazz rouco dispara na sala. Pensamentos soltos, distantes de agouros, na cintilância do tempo ora caos ora dengo. Me reverbero e me rendo. Não julgo astúcias ou delirios. Na estrada cíclica divago entre carícia e a vida, despida, desfez os nós dos tropeços...
A lira é lívida, certeira.
O amor uma canção antiga que diga:
Tomara que faça sol nas noites turvas e com brumas e com comentários do tipo eu não te conheci assim.

Clóvis Struchel 

quinta-feira, maio 26

O barulho que a chuva faz

Deserto
De certo
O verso
Nomeará
O verbo
Chuva
Chuva
Chuva
Neste teu lábio
De alvorecer
(inunda)

Jazz

No rompante de indagações
Me ponho a ladrar senões
Ligeiros impasses
Livramento de desastres
Alcunhas para honrar
Na lida
A mente erguida
Corpo moído
O dente sisu lateja
Defronte
É madrugada
Um conhaque
Um dopante
Uma baga apertada
Insinuante
Longínquo
Perto
O bastante
Na mesa ao fundo
Sorvendo
Cada clímax e delírio
Na batida jazz
Um viés sucinto
A cantora bêbada incita
Nada a temer na vida
Um gozo, uma trama
Escrita

"o mar quando quebra na praia"

Ode a Caymmi

Da nascença
De um apogeu
Duma crença
Insisto na dança que emana
Derrama
O pesar
No mar eu fico
Com onda sereia ressaca
No mar e em mergulho
No mar eu me fulguro

Das idas de Santiago

Fragmento
Uivo e ouvo o tempo
Madrugada
Terapia
É lavar louça na pia
Despojada
Disporia
Num arranha-céu
Arranharia
Mira
Te ligo
Te vejo
Dois ou três
Ansejos
Milhares de vendavais
Teço
Do pôr do sol eu amanheço
Aqui entre nós, presságios
Debaixo dos prós,  arpejos
São mil relevâncias mesmo
Das idas de Santiago

sexta-feira, maio 20

Lampejo e sorte

Intrépido
Ligeiro
Desfazendo receios
Sem freio
E voraz
No suntuoso lume
Que dispara em feixes
E cada vez mais
As malas prontas
Peito aberto
De certo
Será climax
Impero sóis
Eu quero bons presságios
E ventos sublimes

O reconvexo
A jura
O senhor do bomfim
Apreço ébrio
As fulguracoes de um jardim
Nuances pares
As notas de um bandolim
Lampejo e sorte
Os Deuses que estão aqui

terça-feira, maio 17

A silaba

A silaba astuta
A silaba beijo
A silaba turva
Prevejo
A silaba solar
A silaba mar
A silaba soar
No ar
A silaba moura
A silaba louca
A silaba branda
A silaba dança
A silaba espasmo
A silaba espaço
A silaba fardo
A silaba sábado
A silaba voraz
A silaba paz
A silaba chuva
A silaba rua
A silaba negra
A silaba seja
A silaba veja
A silaba incita
A silaba
A silaba
A silaba

domingo, maio 15

Trilha fincada

Madrugada. E os lábaros das foices que aniquilavam os tormentos cessaram num ímpeto. Já não se ouviam as vespas, e os minutos soaram em imensidões de estremecimentos, tal como o corpo mergulhado em vigor de tal prazer sugerido. Na fulguração das cismas. Estas intempéries do acaso desfolhando impressões. Deste outono orvalhado, tal qual seria o imo desta estação. Do amor fez-se a colina. Dos dias passados, o alcance e a trilha fincada. Nesta busca que insulta a razão. Os Deuses são chamados por nomes de rios. Trovejam e inundam os rios. Os Deuses são chamados. Pulsam. Afloram.  Destinam-se. Transbordam. A massa é pura solidez de ferro ou louça. Divina é a sutileza. Esta que não apruma os jeitos.  

O sexo

Entre rimas calidas
Brados causticos
Berros épicos
E suores epiléticos
Deixemos urgir, surgir, fluir
O sexo

sábado, maio 14

O baile dos sete mares

Um conhaque
Um trago
As suas retinas
Marasmos
Eu fumo um cigarro
Outros vários 
Algumas meninas
Me invadem 
De certo embriagado
Um samba que toca no carro
O mesmo sentido
Desvario
Respostas
Que as horas me trazem
De novo um novo conhaque
Lembrança a toa
Um embate
Teu corpo
Teu dorso
Tua margem
As fulgurações
Um alarde
O samba compassa a voltagem
Delírio
A pele que arde
De novo e de novo um conhaque
Os Deuses convidam pro baile
Dos sete mares
Que seja miragem
Ou arte

Ensaio sobre o mar de abril rascante

Caro leitor
Destes de almanaque
Tratados, ensaios
Os que veneram romances
Com poesia entra em transe
Se tem novela é seu lance
Carissimo
A rua até poderia rumar um mar de abril rascante a rua até poderia aprumar um mar de abril rascante a rua leitor poderia emoldurar um mar de abril preciso a rua até poderia enjeitar um bar de abril rascante a rua até poderia aprumar um bar de abril rascante um bar de abril preciso um mar de azul fulgurante a rua até poderia rumar um mar de azul rascante um abril delirante a rua até poderia rumar um mar defronte a rua até poderia entornar um bar de abril dançante a rua até poderia rumar um mar de abril rascante.
E seja o quanto antes.

Benegrip

Texto de 2012

Porque te encontrar foi me rever num foco que ampliava as beiras dos meus horizontes, deixando transparecer o que estava além do presumido, pincelando de arvorecer minhas tardes de terça, e remontando o castelo de lego em multicores, fixando a princesa no alto da torre. Foi emancipar terrenos antes habitados por ratos andantes de pés encardidos, e fulgurar desejos de um filme abstrato com trilha do Otto. Emoldurando as vestes. Me vestindo de astúcias, dúzias delas. Foi como falar comigo, olhando as minhas retinas por sete minutos. E assim me ouvir cantando “Tatuagem” ou “Wake up Alone” num bar vazio numa noite cinza, quando os desamores rebelaram-se turvos, e o meu repertório validava as somas. Foi tudo ao contrário, como planejado. Sem forma de poema. Prosa. Sem maneiras ou modos. Samba. Suor. Vento no rosto. Itinerários. Coisas simples e sem adereços, que nem cabem por sobre linhas. E não impõem epílogos, nem almejam lirismos. Flui. Adiciona. Converge. Explode. Já não tenho tempo pra desfechos. Prosseguir é tudo que me transborda. Eu danço embaixo da chuva. Ileso. Você me traz benegrip e eu curo. 

sexta-feira, maio 13

Bacon e perna

Fragmento
Tua perna no tempo
Quando vejo de longe
Pareceu-me bacon

Lentamente
Fito, fixo, entendo
Cada qual com sua tara
Cada um com sua era
Mas o meu remelexo
Seja bacon e perna

Rimas tolas

No salto
Um passo
Deixa o lastro
Descalço
Incauto
No torpor
Refaço
A linha
O traço
Bebo gim
Quebro pratos
E me mato de rir

quinta-feira, maio 12

Todo mundo

Todo mundo possui os seus medos
De escuro, madrugada
Todo mundo finge que não sabe de nada
Todo mundo espera meio em cima do muro
Todo mundo
Todo mundo

Todo mundo alcança, mas não sabe o que
Todo mundo é cantor de karaokê
Todo mundo manda e todo mundo finge obedecer
Todo mundo sírio
Todo mundo sério
Todo mundo loiro
Todo mundo hetero
Todo mundo carnavalizando
Fora dos seus carnavais
Todo mundo estranho
Todo mundo trôpego
Todo mundo tamanho
Todo mundo caustico
Todo mundo infante
Todo mundo quer beber refrigerante
Aos sábados
Todo mundo de Caetano
E de Ciclano
Todo mundo é farto
Copo americano
Pra medir o fubá do bobó
Todo mundo novo para sempre
Todo mundo louco às vezes
Todo mundo vendo novela das oito
Todo mundo odeia ser como todo mundo junto
Todo mundo já previu o fim do mundo

Todo mundo já quis ser senador
Todo mundo odeia política
Todo mundo acha que é doutor
Todo mundo fez recuperação em física

Todo mundo sonha com o amor
Todo mundo manda alguém embora
Todo mundo surfa no Arpoador
Todo mundo quer e quer agora