Tento palavras, você me desconcerta. Almejo quem sabe um modo. Um jeito de livrar-me do ardor insípido ou te extirpar de mim. Não há qualquer vestígio de seus olhos mansos ou dos seus sutis barulhos enquanto passa algum café ou liga o secador. Também não há beleza, tudo tão opaco. Luzes que entram pelas frestas alardeando a fumaça dos cigarros, aqui apenas alguns quadros, o rádio ligado pra quebrar o eco do silêncio atordoante, estas fotos sobre a mesa envoltas em sorrisos ensaiados - como as detesto! - e uns papéis recém escritos pra ninguém, tal como este que agora esboço. Agora É o meu instante, o que escrevo é hoje, e pulsa intensa a madrugada em que passo sem sono. Não mais relutar. Não mais vislumbrar. Poetizar o breu é mergulhar num vão profundo de tantas feridas. Mas é preciso. É necessário quebrar pedras com as mãos para ver brotar depois, quem sabe, alguma flor de lótus entre os tantos destroços. Não mais relutar. Não mais vislumbrar. Ando fazendo chuva, e germinando com cautela cada sutileza destes desapontamentos. Mais um cigarro e um papel deixado a esmo. Deve ser tarde, deve ser cedo. O nosso encontro então marcado, no ponteiro às noves fora zero.
quinta-feira, julho 3
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18 comentários:
Que bom que voltaste com suas palavras. E acho incrível que, mesmo com esse fel, elas sejam tão belas e tocantes.
Abraço forte, Clóvis!
teu lirismo é doce...
um beiJO!
"Poetizar é mergulhar num breu"...
Gostei disso.
Texto impecavelmente lindo.
Desses que vc não consegue mudar a página e esquecer.
Fica uma semente dessa chuva que vc fez.
Por isso voltei pra reler se era aquilo mesmo que tava germinando ainda, ainda, ainda...
Lindo!
Passo sempre aqui para ver se tem palavras novas... Lindo!
Tenho me ensaidado nelas também, talvez com mais fracassos, mas são os meus esboços...
Me atrevi a fazer um blog, esboço também, seu link está lá, fica mais fácil de te achar...
Lindas palavras,
Cris
Muito bom e triste
os desapontamentos tem mesmo inúmeras sutilezas..mas não se apegue a elas querido...apenas lute por seus cantos em branco, que ainda podem abrigar um sem fim de possibildiades.....poéticas, estéticas e/ou reais...hahah
meu beijo
Carol Montone
Lindíssimo.
http://desabafos-solitarios.blogspot.com/
"Ando fazendo chuva, e germinando com cautela cada sutileza destes desapontamentos"
lindo isto rapaz...
muito bom ler novamente suas entrelinhas...
sua sutileza e habilidade em extrair sentimentos de letras surpreende!
beijos
"Então vai, remexe fundo, como diz um poeta gaúcho, Gabriel de Britto Velho, 'apaga o cigarro no peito / diz pra ti o que não gostas de ouvir / diz tudo'. Isso é escrever. Tira sangue com as unhas.(...) Você não está com medo dessa entrega? Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora. A única recompensa é aquilo que Laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. Essa expressão é fundamental na minha vida." Caio F.
(compartilho essas feridas, pq é mesmo preciso)
bom voltar aqui e ver que a qualidade só faz é aumentar!
Meu bem,andava com saudade de ti...
Não há partida,moço das palavras doces...
Não há partida.
Volto aqui,para me lembrar das belezas,das vivências,das vontades...
Mando um beijo cheio dos melhores gostos e um sorriso calmo.
"e uns papéis recém escritos pra ninguém, tal como este que agora esboço". Acho legal esse disposição do poeta em escrever por nada, apenas satisfazendo a si próprio, sem a necessidade de ser lido. Muito legal! Gostei do teu blog, voltarei mais vezes. Um abraço.
http://so-pensando.blogspot.com
Mais um cigarro e um papel jogado a esmo.
Bonitas palavras.
Adoraria escrever assim.
Te linkei, pra poder visitar-te mais vezes!
E eu que não gosto muito desse tal de computador, fiquei vidrada no monitor desde que achei seu blog...
Beijos.
Carla Beatriz
Caro Don Quixote das idéias lascivas, como andam as suas entradas pela música?
Nossa eu entendo tanto do que falas com tamanha propriedade meu caro..
beijossss
Carol Montone
Ai, que lindo. Lindo, lindo, lindo!
MEU POETA DO RIO!
Engraçado que por entre essas alamedas eu encontrei alguém que gosta de falar das coisas que gosto, e de um jeito que eu gosto de ler. Um jeito que me toca. Bom isso da gente se identificar com a Poesia que vem dos outros e que acaba respingando em nós! Abraços!
Ziggy
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