quinta-feira, julho 3

Inst-antes.

Tento palavras, você me desconcerta. Almejo quem sabe um modo. Um jeito de livrar-me do ardor insípido ou te extirpar de mim. Não há qualquer vestígio de seus olhos mansos ou dos seus sutis barulhos enquanto passa algum café ou liga o secador. Também não há beleza, tudo tão opaco. Luzes que entram pelas frestas alardeando a fumaça dos cigarros, aqui apenas alguns quadros, o rádio ligado pra quebrar o eco do silêncio atordoante, estas fotos sobre a mesa envoltas em sorrisos ensaiados - como as detesto! - e uns papéis recém escritos pra ninguém, tal como este que agora esboço. Agora É o meu instante, o que escrevo é hoje, e pulsa intensa a madrugada em que passo sem sono. Não mais relutar. Não mais vislumbrar. Poetizar o breu é mergulhar num vão profundo de tantas feridas. Mas é preciso. É necessário quebrar pedras com as mãos para ver brotar depois, quem sabe, alguma flor de lótus entre os tantos destroços. Não mais relutar. Não mais vislumbrar. Ando fazendo chuva, e germinando com cautela cada sutileza destes desapontamentos. Mais um cigarro e um papel deixado a esmo. Deve ser tarde, deve ser cedo. O nosso encontro então marcado, no ponteiro às noves fora zero.