terça-feira, junho 22

Nu

Quando chegar, tire em imediato suas roupas, eu quero ver-te nu, exposto, imposto aos meus devaneios, quero apalpar a rispidez e a lisura, anseio o foco sobre o teu pênis ainda amanhecido, te espero trêmula, esmero uma canção antiga, um verso de outrora que dilacere cada enfermidade, a deformar os sentidos, transfigurar as sutilezas, quero ver-te nu, como havia dito, e apalpar cada emaranhado de pêlos e cruas carnes, mornas, cálidas, austeras, almejo ampliar o foco, eternizar em polaróides o lúbrico cerne do corpo que me penetra, em una moradia substancial e lasciva, a língua, a saliva, a porra, a face inebriada e ardorosa, não conte-me sobre os fatos, não diga-me segredos, anule as urgentes notícias, pode me chamar de puta, desvairada, insana e torpe, o porre que compartilhamos, a falta sórdida que agora esvai-se, goze sobre os meus lábios, minhas ancas, meios seios, arruíne esta distancia, aproxime-se faminto e sujo, me coma, alimente-se do meu liberto sexo, e já saciado implore por lamber meus pés, saliente e impuro, a deflorar as horas, dias, meses, e imperar o alicerce que nos une num baque de tempestades, intensos brios, vorazes ímpetos, quero beber o teu suor pra sentir sede de você.

segunda-feira, junho 7

O lábio e o labirinto

As feridas expostas, remotas e frígidas, assopro com sutileza, e a cada ardor mais espesso, rememoro o cálido olhar, pra me enxergar de um outro foco, e testemunhar uma felicidade distante, distinta, como os teus pés nos meus num qualquer dia, entre edredons e cafés, e um revés de emoções, a acarretar um conglomerado de sentidos vãos, mal sinto, já não reconheço o amor, esvai-se entre remotos espasmos e o calendário que teima em perpassar os dias, a barba por fazer a emaranhar a minha frágil face, o lábio e o labirinto, o afago de deus e do diabo, os passos que rumam rente ao mapa em branco, páginas que esmero com o despudor e a rispidez que me cabe, onde me coube as carícias, as malícias de terça, os cigarros acesos, a esperar um esmero presságio, vago, vário, vagante e mundano, como as paixões repentinas, alusões, ilusões postas à prova, castelos de areia arruinados por uma brusca tempestade de verão, restou-me os poemas esquivos, a bermuda rota, as sandálias de couro e a sua bússola disforme, que aponta um brado, um diálogo, uma dúvida, tomo aspirinas com pura vodka, não quero querer, e anseio, não mais seus pigarros, seu catarro, seu chulé, a densidade imposta em que se finda o concreto sentimento, cimento e tijolo, o lobo mau dispensará seus murros, protejo-me das adversidades, dos encontros inesperados no jornaleiro, do telefonema madrugal desdizendo conjuras, e um amontoado de quinquilharias que apertam meu peito, a fotografia na cortiça, o bilhete hermético, o orgasmo lascivo, represento, aumento o tom, minto banalidades, desfaço perguntas, invento uma alegria estática, pra não imperar tristes fatos, cinzentas entrelinhas, fardos que não compartilho, hei de herdar o peso incomum, a parca lisura, o reles impacto, "e ninguém aqui vai notar que eu jamais serei a mesma".