sexta-feira, setembro 18

O parto

Para mim


Não, não é pra ninguém estas palavras que arrebento, embora liberto de tais comiserações, ainda trago algum ranço de raiva ou descaso, puras lástimas, fortes apegos. Já não me movo pela casa, o quarto é o meu abrigo mais redentor, não almejo sinas nem estradas, apenas algum vento norte que entre pelas frestas alardeando algum presságio. Nenhuma sigla eminente, as senhas revelaram-se frágeis e deveras claras, não almejo o verbo mais intrínseco, não sei dos versos que esboço, meu nome é um amontoado de memórias e instintos, ao ponto de levar-me ao pé do mais poroso abismo, todos os perigos, uma noite escura. Agora mesmo ponho-me a dilacerar tais feridas, esquecer cada frase insuspeita, hesitar um poema perdido, por entre gavetas, bem no fundo do sem fundo das coisas que deixei para trás, a poeira sobre os livros, alardeando os dias e cada clima esperado, a fonte que deságua ininterrupta, segundos e sentidos que se rompem, sua noite é um embaraçar de suores e desejos, sonhos de brancas nuvens, infantis idealizações, príncipes e sapos, bucetas e pererecas, nenhum trafego comedido, tudo frio e um tanto desalmado, as putas fumando nos becos, os velhos catando quinquilharias, é o que lhes restam, é o que me cabe, já não vejo suas cores, cinzas de um diário popular, quase algum arroubo, uma espera bêbada, talvez um descanso – estaria repetindo? - qualquer distanciamento, ou breves lembranças, escuras e sórdidas, não assino abaixo, nem sequer existo. (vozes que enchem singelos balões, olhos que preenchem o vôo, a fuga repentina, o enjôo dos meses, logo, o ovo se parte, três ou quatro quimeras, um sorriso afável, o parto, o horário, eis o nascimento.)