segunda-feira, março 26

acessos

eu hoje revejo os seus versos
e me ponho a pensar em seus badulaques azuis-
cor de mar



somos jovens pra pensar no fim do mundo
foi você quem disse
somos o mundo quando transformarmo-nos em três
que logo depois serão quatro
- eu lhe disse



a chave está com o porteiro
entre sem fazer barulho
eu posso estar dormindo-
acordado buscando
os tons reais do
caminho lúdico
nos sons que
transcrevo


minha cara
no espelho
remete-me
ao tempo
em que
dançamos
descompassos
num dia
de chuva
e de frio


minha cara, minha cara, minha cara
sinta-se em casa...

regue as plantas, leia os jornais
pinte as unhas de vermelho-escarlate
prenda os cabelos, passe um café

ajeite os portas-retratos, ria da minha desordem
experimente usar o meu perfume
e faça um bolo de limão


quando sair
deixe um bilhete-
poesia
e guarde a imagem
dos meus sonhos
azuis
oscilando
entre canções
de amores
multi-coloridos



eu posso acordar de repente
querendo sonhar sonhos seus...

sexta-feira, março 23

dadá

bailavam cegas
andorinhas de inverno
vermelhas e cinzas
como o céu de outrora

e ainda que inertes
ao tempo e ao clima
bailavam bailavam
sorriam pra mim

mas não me viam
ou viam as cores
da alma que é minha?
ou não sorriam
tratava-se apenas do vão irreal
de minha mente já posta à venda?
ou era fuga do marasmo vivo
num riso de andorinhas vermelhas-vermelhas?
ou eram cinzas dos dias mais quentes
disformes no frio de um vôo só meu?

terça-feira, março 13

Carta para os novos dias

Eu não escrevo pra você, não perderia tempo articulando sensações tão grandiosas direcionadas a alguém tão pequeno e superficial.Escrevo por instinto, escrevo já apagando todas as lembranças nestas linhas, escrevo para não lembrar, para não querer, para não pensar em nada além dessas palavras.Então escrevo, e escrever assim, tão despretenciosamente, é como mover-me para uma outra esfera, onde os ares são mais leves, onde a brisa é afago, e o mar é poesia.Ali é o meu mundo, o mundo em que escrevo tem seus próprios tons, o mundo em que escrevo não é o seu mundo, certamente.Por isso escrevo intensamente por todos esses dias, para não viver em seu mundo, para não caminhar em seu mundo, para não perceber o seu mundo.Pois o seu mundo é cinza, o seu mundo é nublado, é vago, é triste, amargurado e complexo.Não, não quero mais viver assim.Não posso.Não quero aprofundar-me neste vazio repleto de sensações obscuras.Não posso mais render-me a estes dias de moletons e filminhos dramáticos, não posso achar poética esta sua maneira de viver, sempre em busca, sempre insatisfeito.Chega!
Por hoje quero apenas este dia ensolarado, por hoje quero esta tarde, quero este mar, quero a canção bonita da Gal, quero o poema florido de Alice, quero caminhar no Arpoador, quero brindar o crepúsculo e voltar pra casa sem pressa, percebendo as pessoas, enxergando as munuciosidades que, ao seu lado, eu jamais perceberia.
Por hoje, eu já não te quero.
Por hoje eu decidi me querer.
Por hoje olharei no espelho e direi "Eu te amo!".
Por hoje escrevo para não pensar em você, para não viver em você, para não escrever pra você.
Hoje, suavemente, já percebo com clareza o quanto é essencial, sublime e renovador, deixar as lamúrias num canto, respirar fundo, e tirar uns dias apenas para se amar intensamente.
E eis que, de repente, as brisas são afagos, os ares são mais leves, o céu tem seus próprios tons, e nossa...o mar é poesia.

domingo, março 4

de nada

meu poema não é pra você
não há poesia em sua boca
não há poesia em seu beijo
não há poesia em seu seio
não há poesia em você
não há poesia em mim
não há poesia no amor que vivemos
não há poesia
nessa poesia
então eu fico por aqui
sem poema, sem poesia
sem dilema, sem alegria
sem teoremas, sem teorias
sem dores, nem choros
nada de gritos, nada de esporros
tudo pra chegar ao nada
meu poema é sobre nada
e é tudo o que posso dizer
meu poema não fala de amor
meu poema não é pra você
sinto dizer,
mas não é.