terça-feira, junho 19

Guerra e Paz

acenda a luz enquanto não há noite
para escurecer os nossos versos

desfaça estas palavras já demasiadas
disfarça, é que vem vindo gente
apaga este cigarro e me beije
no escuro dos teus pensamentos

agora clareou, por ora clareou
se soubessem a paz que habita em seus lábios
levavam você pro Iraque, levavam você pra Israel

mas não vá para longe enquanto ainda há noite
fique aqui comigo, tenha pressa não...

agora clareou, por ora clareou
se soubessem a paz que habita em seus lábios
levavam você pra Rocinha, levavam você pro Borel

mas não vá para longe enquanto ainda há noite
fique aqui comigo, tenha pressa não...

domingo, junho 17

Viva!

Minha poesia não quer crítica
(não quer ser crítica!)
não quer lirismos nulos
não quer aplausos
não quer caderno B
não pretende ser cult
nem hype, nem soft
não quer demências
não quer ser blasê.
Minha poesia não quer rimar
(e rima!)
tem pernas próprias, caminha...
tem vida vivida ao relento, suor
conhaques, sorrisos, leituras, loucuras.
Minha poesia não quer assinar
primeiras páginas
não quer tecer paixonites vãs
não quer visitar Paris
prefere a Lapa, minha poesia.
Minha poesia dispensa cerimônias
não frequenta saraus e seus geniais verseios gélidos
(enquanto os gênios não pensam na punhetinha ante-sono,
articulam bobagens com ar lord inglês).
Minha poesia quer cessar os mandamentos ray society
quer distinguir nuances e manchar aquarelas inteiras.
Minha poesia quer ser menino, moleque, livres pensamentos
feito brisa fresca entrando pela fresta entreaberta
feito mar azul visto ao descer uma estrada
feito amor revivido ao dobrar uma esquina
feito adeus sofrido no cais
(oscilações, cores distintas, tantos sentires...).
Minha poesia quer ser agora, quer ser presente
minha poesia só quer viver...

terça-feira, junho 5

sutilezas

carece de dizer o que deseja
e beija o travesseiro a cada noite
finge a felicidade marejada
em olhos que me ditam desorientação

não diga que me ama assim tão vã
arrume as suas coisas e venha para mim
a casa é sua e eu sou teu
sem dizer sim, sem cerimônias

não diga que me ama, não precisa
dizer não é comprovação
sutilezas me descrevem teus sentidos
em meus ouvidos tantas palavras soam

porque nem tudo é poesia
e porque nem todo verso fala de amor
mas a essência que nos une mostra-se clara
dispensa perguntas, dispensa palavras

sentidos calejados pelo tempo
no não-dizer que mostra-se indecifrável
querer-te me soa o mais natural dos sentidos
e então naturalmente os dias passam...

diz mais o euteamo das minúcias
e eu digo e desdigo em cada gesto
me diz também em cada traço, em cada passo
diálogos moldados de beleza
caminhos se entrelaçam sob estrelas
em nosso encontro reinará a sutileza...