quarta-feira, junho 29

No cimento

A tormenta aproximando-se em passos largos encobrindo o horizonte, vejo-te longe, ainda mais que a tormenta, bem mais, além, ali ao lado, ouvindo Aretha Franklin entre diálogos surdos, não ouço, não digo também, fumo um cigarro na janela fingindo enxergar algum ponto, sem nó nem nós, estas metáforas cafonas emoldurando as vestes, os cadarços sujos, o sorriso assim de lado, com a graciosidade de um besouro ou um camaleão. A fuga dos dias, cafés requentados, minúcias expostas em formato macro, os versos relidos, desgastados pelo tempo dos sentidos que tornaram-se ambíguos, vãos, vão-se trêmulos, encarnados num rompante de reverberações e cismas, um montante inumerável de fraquezas brutas, a ruptura do ciclo, este desfecho reticente, anunciação de veemências e rastros de seus passos no cimento fresco, baque impetuoso, pancada brusca, revés de trovoadas vindas de dentro do que há de mais dentro de suas variações, idéias vagas, rasas razões, hora de partir, de partir-me, um duo de um, apenas um, mais um cigarro e outro e outro e outro café requentado. Que a tormenta desbaste este eco, este oco de protuberâncias ínfimas, e lavre...lavre...lavre...livre inunde...a cadeia das horas que já não nos cabem.

quinta-feira, junho 23

Como vão as ondas?

Como vão as ondas

Da sua televisão?

O que os outros vãos

Tudo é contramão

Não é nada não

É que eu sou tranqüilo

Vivo com as mãos no chão

Andando com os pés no céu

E essa coluna?

E as tantas colunas

Que já não suportam

Seu peso sem asas

Tomara que caia

E o sabor das brumas

O temor das rimas

O estar por cima

Sem querer gozar

Ainda, ainda...

As tantas lembranças

O trabalho às pampas

Se sujar, se lança

Se for cor, carmim

Caminho na chuva

Sigo enluarado

Mas fazendo sol

Em domingos

E feriados