segunda-feira, junho 7

O lábio e o labirinto

As feridas expostas, remotas e frígidas, assopro com sutileza, e a cada ardor mais espesso, rememoro o cálido olhar, pra me enxergar de um outro foco, e testemunhar uma felicidade distante, distinta, como os teus pés nos meus num qualquer dia, entre edredons e cafés, e um revés de emoções, a acarretar um conglomerado de sentidos vãos, mal sinto, já não reconheço o amor, esvai-se entre remotos espasmos e o calendário que teima em perpassar os dias, a barba por fazer a emaranhar a minha frágil face, o lábio e o labirinto, o afago de deus e do diabo, os passos que rumam rente ao mapa em branco, páginas que esmero com o despudor e a rispidez que me cabe, onde me coube as carícias, as malícias de terça, os cigarros acesos, a esperar um esmero presságio, vago, vário, vagante e mundano, como as paixões repentinas, alusões, ilusões postas à prova, castelos de areia arruinados por uma brusca tempestade de verão, restou-me os poemas esquivos, a bermuda rota, as sandálias de couro e a sua bússola disforme, que aponta um brado, um diálogo, uma dúvida, tomo aspirinas com pura vodka, não quero querer, e anseio, não mais seus pigarros, seu catarro, seu chulé, a densidade imposta em que se finda o concreto sentimento, cimento e tijolo, o lobo mau dispensará seus murros, protejo-me das adversidades, dos encontros inesperados no jornaleiro, do telefonema madrugal desdizendo conjuras, e um amontoado de quinquilharias que apertam meu peito, a fotografia na cortiça, o bilhete hermético, o orgasmo lascivo, represento, aumento o tom, minto banalidades, desfaço perguntas, invento uma alegria estática, pra não imperar tristes fatos, cinzentas entrelinhas, fardos que não compartilho, hei de herdar o peso incomum, a parca lisura, o reles impacto, "e ninguém aqui vai notar que eu jamais serei a mesma".

6 comentários:

marimagno disse...

quanto coisa em uma só.
espero que se encontre em todos os labirintos.

Darlan disse...

Denso, rapaz. Uma confusão de coisas, mas todas muito bem postas, traçadas. Pesado e belo.

"Escovo os dentes. Abro a porta da frente. Evito a foto sobre a mesa. E ninguém aqui vai notar. Que eu jamais serei a mesma..."

Abraços meus!

Marina disse...

saudade de tuas palavras. tão intensas, doídas, libertadoras e libertinas... amor.

(e adorei o título :)

beijo!

poeta matemático disse...

Bom, muito bom

Como disseram os outros, intenso e profundo...

poeta matemático disse...

Bom, muito bom

Como disseram os outros, intenso e profundo...

poeta matemático disse...

Bom, muito bom

Como disseram os outros, intenso e profundo...