terça-feira, março 13

Carta para os novos dias

Eu não escrevo pra você, não perderia tempo articulando sensações tão grandiosas direcionadas a alguém tão pequeno e superficial.Escrevo por instinto, escrevo já apagando todas as lembranças nestas linhas, escrevo para não lembrar, para não querer, para não pensar em nada além dessas palavras.Então escrevo, e escrever assim, tão despretenciosamente, é como mover-me para uma outra esfera, onde os ares são mais leves, onde a brisa é afago, e o mar é poesia.Ali é o meu mundo, o mundo em que escrevo tem seus próprios tons, o mundo em que escrevo não é o seu mundo, certamente.Por isso escrevo intensamente por todos esses dias, para não viver em seu mundo, para não caminhar em seu mundo, para não perceber o seu mundo.Pois o seu mundo é cinza, o seu mundo é nublado, é vago, é triste, amargurado e complexo.Não, não quero mais viver assim.Não posso.Não quero aprofundar-me neste vazio repleto de sensações obscuras.Não posso mais render-me a estes dias de moletons e filminhos dramáticos, não posso achar poética esta sua maneira de viver, sempre em busca, sempre insatisfeito.Chega!
Por hoje quero apenas este dia ensolarado, por hoje quero esta tarde, quero este mar, quero a canção bonita da Gal, quero o poema florido de Alice, quero caminhar no Arpoador, quero brindar o crepúsculo e voltar pra casa sem pressa, percebendo as pessoas, enxergando as munuciosidades que, ao seu lado, eu jamais perceberia.
Por hoje, eu já não te quero.
Por hoje eu decidi me querer.
Por hoje olharei no espelho e direi "Eu te amo!".
Por hoje escrevo para não pensar em você, para não viver em você, para não escrever pra você.
Hoje, suavemente, já percebo com clareza o quanto é essencial, sublime e renovador, deixar as lamúrias num canto, respirar fundo, e tirar uns dias apenas para se amar intensamente.
E eis que, de repente, as brisas são afagos, os ares são mais leves, o céu tem seus próprios tons, e nossa...o mar é poesia.

5 comentários:

diovvani mendonça disse...

Grande sabedoria poeta, deixar as lamúrias num canto; respirar fundo e ao (ex)pirar, ainda espalhar poesia pelos ares. Hummmmmmmm... (Res)piro com prazer. Esta é minha busca. Parabens!!! AbraçoDasMinas

Anônimo disse...

eu ando mais é me afogando que salvando qualquer um que seja...belo texto meu caro, se deixar levar é fundamental.

(você é amigo de Paula Berbert, né?)

abraço

Anônimo disse...

Mundos cinzentos e frios não despertam os sentidos. E o escrever caminha as veias, borrando as sensações de vermelho fim de tarde.
Vem colorir as sensações com a gente?

Te espero.


__felícia__

Rayanne disse...

Há amores-vícios que acinzentam as sensações e descolorem as vontades.
E só por hoje
A gente deve não se machucar
E borrar as tintas,
Talvez um canto,
talvez chorar.
Até que o sorriso volte a se debruçar sobre o âmago das coisas.

***Estrelas***

Marina disse...

lindo, lindo!

o final é maravilhoso! :)

;***