terça-feira, julho 17

Sobre sutilezas e introspecções

Difícil à beça falar de economia Lulística enquanto se esta louco de paixão, com o coração aos descompassos, a boca seca e o celular te olhando com um certo ar de desdém; chego a pensar que ele está com defeito, e desligo e ligo imediatamente o aparelho, para ver se assim ele chama e eu atendo e é você do outro lado convidando pra um pizza, onde falaremos de qualquer assunto, só para estar perto um do outro, poder olhar de perto cada dente mais à mostra, cada minúcia dos lábios, os gestos tão soltos, cabelos despenteados entre chopps e mordidas.Tão bom estar assim, perto, acessível, sem buscas vãs, sem discussões profundas sobre o mundo, só a gente ali naquele bar quase cheio, mas ainda assim só a gente naquele lugar, lembrando de um dia qualquer de um tempo sem importância, enquanto você abre a bolsa e pega um batom e eu o tomo suavemente de suas mãos citando Caymmi, “não pinte esse rosto que eu gosto, que eu gosto, é que é só meu...”, você sorri tão feliz que a essa altura eu já ganhei a noite, e fico extremamente contente só em te ver sorrindo assim pra mim, sem cerimônias, sem receios.Você é livre e isso me encanta tanto, tenho vontade de ficar te olhando por um tempo, só te olhando, percebendo as tais particularidades tão suas, os teus gestos mais afoitos, o seu jeito de olhar para as coisas, e sabe o que eu gosto mais ainda?Quando você suspira pra falar, então articula sem rodeios, e logo em seguida pergunta se falou demais, eu acho tão bonito, você falando e falando e eu, no mais profundo ardor da paixão, me desligando de todos os sons e fitando somente a sua imagem encantada à minha frente, pintura em movimento, e de repente o som cessa de uma só vez e você indaga tão sutilmente se excedeu-se em seus pensamentos; tão linda, tão perto, tão minha, me aproximo e te abraço com todos os suspiros e desejos, me aninhando em seu pescoço como quem tem sede de amor e digo que ‘não’, que é sempre maravilhoso escutá-la, que realmente este filme do Almodóvar é um primor artístico, e logo emendo falando do novo disco do Caetano e você escuta tão atentamente que eu me pergunto se estou falando sozinho, enquanto você adentra em cada sutileza minha, deixo-me levar por todo aquele encanto e continuo articulando pensamentos e citando versos e olhando fixamente em seus olhos e te amando em cada detalhe de seu rosto e te desejando em cada frescor de sua voz e me apaixonando cada vez mais em cada instante ainda mais profundamente e porra...nada do telefone tocar!


- Sabe, Clóvis, li num artigo um pensamento instigante, dizendo que "a condução da política de juros - os maiores do mundo - pelo governo é desastrosa porque dinheiro que deveria ser investido em obras públicas de grande impacto econômico é totalmente drenado ao setor financeiro..."

- Aham...sei...interessante...

11 comentários:

Anônimo disse...

"Tão bom estar assim, perto, acessível, sem buscas vãs, sem discussões profundas sobre o mundo, só a gente ali naquele bar quase cheio, mas ainda assim só a gente naquele lugar"


tão boas, tuas percepções, Clóvis, que me deixo levar...

. fina flor . disse...

ADOREI!!!!

Entendo perfeitamente o que quis dizer..................

beijos, meu bom

MM

ps: espero que seu telefone tenha tocado depois desse texto :o)

Samantha Abreu disse...

falei disso esses dias...

"não misture os climas, os assuntos, nem as enzimas"

ao amor, talvez, basta a arte. Política e assuntos jornalisticos ficam na boca. Superficialmente.

Ai Ai!

Felipe Dib Boufflers disse...

sempre falam isso pra mim, que eu devia musicar os poemas
mas eu so pessimo em musicar coisas... x.x
hahahahaha

valeu pela visita la no meu! ;D

gostei bastante do que eu vi por aqui, voltarei

vo te linkar lá no meu =P

Tunai Giorge disse...

.

certo que a política de juros(por pior que seja) é muito mais fácil de se entender, do que os sentimentos humanos (sentimentos humanos)

feito!

.

Anônimo disse...

perfeito!

A Autora disse...

AMEI.....
muito bom.......j� vivi essa cena....a do encantamento e a do �dio do telefone...risos....
gostei muito da sua forma e conte�do...de tudo..um beij�o e obrigada por ouvir um pouco do que eu falo tb...risos
Carol Montone

diovvani mendonça disse...

rsrs - Interessante, poeta, até seu texto (muito bom, diga-se de passagem) acabou em pizza - que é muito melhor, que qualquer outro assunto em boa companhia.
Quanto a "profundezas" após ter estado atolado nelas um dia escrevi:

"... O bom é não ser absoluto profundo / bom é ser raso e solto no mundo / o bom é não ser imã de geladeira / bom é nao marcar bobeira / não se colar em nada / nada, nada, nada; tudo nada, no infinito mistério / creia-me, tudo passa..."

E aí, vamos tomar um chopp?

AbraçoDasMinas.

Angelo disse...

Um "showzinho" esse seu texto, prodígio.

Bibi disse...

Encontrei seu blog nos links do blog de uma amiga...

"Sobre sutilezas e introspecções" foi uma surpresa no meu dia... Me envolvi completamente com o texto!

Adorei!

Bjs.

Anônimo disse...

Essa é a melhor, sou apaixonada por essa